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terça-feira, 28 de junho de 2011

Nem todos os jornalistas estão à venda

“O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, o exercício cotidiano do caráter” (Cláudio Abramo)



Por: Augusto Nunes

Entre uma rodada de palestras financiadas por empresários amigos e uma missa negra pela salvação da pele dos pecadores de estimação, Lula retomou na terceira semana de junho a ofensiva contra a liberdade de imprensa. Coerentemente, a discurseira que tenta estigmatizar o jornalismo independente e faz a louvação da censura, rebatizada pelo PT de “controle social da mídia”, foi ressuscitada no Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que juntou em Brasília o bando que age na internet a serviço do governo e, sobretudo, do ex-presidente que ainda não desencarnou do Planalto.

“Nunca me preocupei com crítica, mas que elas sejam verdadeiras”, mentiu Lula para a plateia de blogueiros estatizados pelo companheiro Franklin Martins com verbas, empregos e favores providenciados pelo Ministério da Propaganda. “O que me preocupam são as inverdades, como aquela pedra, meteorito, que bateu na cabeça de um candidato na eleição”, voltou a trocar os fatos a socos e pontapés, insistindo em debochar da agressão sofrida pelo candidato tucano José Serra num evento eleitoral no Rio de Janeiro.

Anabolizado por salvas de palmas, o palanque ambulante caprichou nos afagos aos coadjuvantes das sucessivas farsas encenadas para transformar afrontas à democracia em piadas ─ ou para negar que aconteceram. “Vocês evitaram que a sociedade brasileira fosse manipulada como durante muito tempo ela foi manipulada”, inverteu as coisas o falsário patológico. “Vocês evitaram que os falsos formadores de opinião pública ditassem regras do que deveria acontecer no país”.

Nessa versão pilantra, o Brasil escapou de afundar nas fantasias urdidas pela imprensa não domesticada graças aos progressistas eletrônicos ─ uma tribo que agrupa fanáticos estacionados no começo do século 20, exotismos que ainda empunham garruchas da Guerra Fria e ex-jornalistas que arrendaram a alma ao governo para garantir uma velhice poupada ao menos de achaques financeiros. Todos incondicionalmente subordinados ao morubixaba, não acham nada sem prévia autorização, nem ousam pensar por conta própria. Esses requintes são para quem têm autonomia intelectual. Limitam-se a fazer o que o dono ordena.

No Brasil dos blogs governistas, não existem safadezas, roubalheiras, corrupção, ladroagem, quadrilhas federais, nada disso. E o escândalo do mensalão, claro, foi uma invencionice da elite golpista. Nesse país sem pecados, Erenice Guerra é uma dama de reputação ilibada, Antonio Palocci prosperou honestamente, Aloízio Mercadante e seus aloprados jamais fabricaram dossiês, Dilma Rousseff é uma pensadora onisciente, Lula é o gênio da raça e o partido segue honrando a frase recitada por José Dirceu no século passado: “O PT não róba nem deixa robá”.

O inevitável Dirceu apareceu no segundo dia da quermesse em Brasília disposto a explicitar o que o chefe sugerira e, de novo, esvaziar o estoque de bravatas. “É uma vergonha que a regulação da mídia não seja realidade”, irritou-se. “Se o Poder Legislativo é soberano e autônomo, ele fará a reforma”. Se não fizer, avisou o palavrório, terá de haver-se com as tropas do combatente diplomado em Cuba. “Estou disposto a travar essa luta junto com vocês”, avisou o guerrilheiro de festim.

Declarações beligerantes formuladas por Dirceu só conseguem matar de rir. Vencido pelo padeiro de Ibiúna em 1968, pelo medo paralisante nos anos 70, pela própria arrogância no restante do século, ele foi definitivamente derrotado pelo prontuário em 2005. Mas o revolucionário de araque está sempre pronto para perder mais uma. Ele se recusa a morrer antes de monitorar, de preferência instalado no gabinete do ministro da Propaganda, a implantação do controle social da mídia.

Enquanto durasse a experiência liberticida, o que merece ou não virar notícia seria decidido por comitês formados por gente de confiança do governo, como os participantes do encontro em Brasília. “Os blogueiros progressistas não têm rabo preso com ninguém, a não ser com a própria consciência”, garantiu Dirceu. Os que conheci nunca souberam o que é isso. Dependendo do preço, suariam a camisa com o mesmo entusiasmo num campo de concentração nazista ou num gulag soviético.

A recidiva autoritária de Lula e Dirceu foi concebida para inibir os que não se deixam intimidar e açular os blogueiros federais. Além dos incontáveis casos de polícia já eviscerados pela imprensa, vêm aí a Copa da Roubalheira, a Olimpíada da Ladroagem e, antes dos dois espantos, o julgamento da organização criminosa envolvida no mensalão. Para que o governo do padrinho e da afilhada não fique ainda pior no retrato, é essencial reduzir o espaço de quem insiste em contar o caso como o caso foi e ver as coisas como as coisas são.

Os comandantes da ofensiva, intensificada neste fim de semana, vão constatar de novo que manobras liberticidas naufragam já nos primeiros artigos da Constituição. E descobrirão que não são poucos os profissionais que ilustram a lição de Cláudio Abramo: “O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, o exercício cotidiano do caráter”. Jornalistas independentes são prisioneiros voluntários da paixão pela verdade. Enxergam e denunciam delinquências seja qual for a filiação partidária do bandido. Sabem que a liberdade não tem preço. E não estão à venda. Fonte

segunda-feira, 27 de junho de 2011

FHC, a eleição de 94 e o filho incômodo

"A triste vítima é o garoto." (Nirlando Beirão, jornalista e escritor)



Um fantasma assombrou a campanha presidencial de Fernando Henrique, em 1994 – a primeira que ele ganharia, embalado pelo sucesso do Plano Real e pelo arco-íris de alianças tecidas à sua volta, de Paulo Maluf ao ex-PCB, passando pelo supercoronel nordestino Antonio Carlos Magalhães.

Um possível escândalo tirava o sono do staff da campanha – segredo que circulava livremente nas esferas bem informadas por Brasília, entre políticos e jornalistas, mas que a mídia amiga do candidato, quer dizer, toda a grande imprensa, tratava de ocultar debaixo do tapete. Fernando Henrique seria o pai do filho mais novo da jornalista Miriam Dutra, repórter da TV Globo na Capital Federal. Em 1994, Tomás tinha de dois para três anos (ele é do dia 25 de setembro).

O desgaste provocado na campanha de Lula, na eleição anterior, a de 1989, por outra Miriam – que a campanha de Collor aproveitou com tinturas dramáticas, outro affair que terminou no nascimento de uma filha reconhecida, aliás, por Lula –, escaldou a turma do PSDB, que tratou de blindar o diz que diz do melhor jeito possível.

Invocou-se o compadrio incondicional do chefe de Miriam Dutra, o então diretor de Jornalismo da Rede Globo, Alberico Souza Cruz, e a repórter acabou sendo exilada para Portugal, como correspondente da emissora. Não é que Portugal seja um lugar pródigo em notícias, mas, mais do que isso, o que aconteceu com Miriam é que nenhuma de suas matérias foi ao ar no longo período da campanha presidencial. Era para ser esquecida, a moça – e de fato foi.

Miriam Dutra chegou a ser queixar com amigos e amigas, alegando que jamais faria contra FHC o escândalo que a sua xará armara contra Lula. E amigos e amigas – e até um e outro jornalista bisbilhoteiro/a – aprenderam a respeitar seu discreto silêncio.

Mas o pavor continuava assolando as hostes de FHC. Sabe-se, por exemplo, que José Serra apareceu certa noite, bem tarde da noite, como é, aliás, de seu estilo, para uma conversinha amiga e aproveitou-se para, num momento de descuido de Miriam Dutra, ir lá dar uma checada na geladeira – para se assegurar que nada lhe estava faltando. Ao perceber a indelicadeza, Miriam despachou Serra no primeiro táxi disponível lá no vizinho Cassino do Estoril.

As cabeças-pensantes da campanha – no mais alto patamar estavam os chamados “três ursos”, o então robusto Nizan Guanaes e os igualmente roliços Sergio Motta e Geraldo Walter, ambos já falecidos – temiam também pela eventualidade de que o vazamento indevido do rumor pudesse chegar até Ruth Cardoso, mulher de FHC, e, assim, criar um constrangimento doméstico de razoáveis proporções.

O que se sabe hoje é que não foi FHC o portador da incômoda notícia, mas que Ruth reagiu como se poderia esperar dela: uma indiferença cheia de dignidade que, dizem os mais íntimos, escondia o fato de que ela, sagaz como era, já sabia de tudo.

De todo modo, a campanha de 94 escoou sem baixarias – um exemplar contraponto à medonha atitude dos marqueteiros de Fernando Collor, do próprio candidato e da imprensa disposta a tudo contra a candidatura Lula.

A acachapante informação, agora divulgada, de que o exame de DNA desmente a paternidade de Fernando Henrique não tem o dom de apagar as angústias e dores que o episódio causou na época a muita gente – e que continuou causando até hoje. A triste vítima é o garoto. Fonte

domingo, 26 de junho de 2011

Comunicação alternativa aos meios tradicionais

"A comunicação exercida por estes veículos comunitários funciona como integradora social." (Marcelo Pimenta e Silva)



Uma das principais justificativas para o surgimento das rádios comunitárias é o desejo de combater a manipulação das notícias divulgadas pelas grandes empresas de comunicação e apresentar um outro lado das minorias sociais. Esse “outro lado da moeda” desenvolveu-se com profusão nas últimas três décadas, levando, na maioria dos casos, informações de grupos e comunidades que quando aparecem no discurso jornalístico sofrem uma profunda descaracterização de sua realidade e objetivos. Essa espécie de comunicação fora dos grandes núcleos comerciais estabelece um conceito de mídia alternativa, ou independente, que hoje é cada vez mais amplo e exige uma profunda análise e estudo do seu caráter de promotor de informação ao público. A importância de observar o público a que são direcionadas tais propostas é importante para uma observação mais completa, pois na maioria dos casos esses veículos de comunicação são de ordem segmentada e atendem uma demanda social. Ou seja, surgem com um propósito, seja comunitário, religioso ou até político.

Atualmente, dentro da ideia de comunicação alternativa, existe uma gama de meios que diferem em seu formato, mas que têm como objetivo comum serem uma alternativa aos meios tradicionais. Podem ser citados os sites pessoais, os blogs; os jornais de circulação pequena; os fanzines; as rádios e TVs comunitárias; chegando até mesmo a propostas como o grafite em metrôs e muros, por exemplo.

Alcance e potência

Com mais de uma década de aprovação da Lei 9.612/98 – que regulamenta a radiodifusão comunitária –, a fiscalização dos órgãos de justiça segue muitas vezes sendo realizada de forma arbitrária, coibindo a utilização das rádios pelas comunidades. Contudo, a cada ano que passa, essas mesmas comunidades apoiam maciçamente seus instrumentos de comunicação de base e natureza social. Enfrentam fiscais e policiais, na tentativa de evitar apreensões de equipamentos, fechamento de rádios e prisões sem mandato, além de auxiliarem no funcionamento destes espaços considerados como “a comunicação dos excluídos”.

Mesmo com tal motivação para lutar pelo direito de terem legalizadas as rádios comunitárias, ainda são diversos os percalços e problemas enfrentados pelas emissoras. A burocracia para que seja concluído o processo de legalização é o principal fator. Uma das causas para essa demora é que há uma enorme demanda por espaço, visto que o espectro radioelétrico nacional está saturado, o que justificaria a ressalva dos órgãos oficiais em conceder as licenças. Conforme dados de 2000, em todo país havia 9.521 pedidos, sendo que apenas 917 passaram do MiniCom para o Congresso.

Os entraves continuam no sentido de que a lei de radiodifusão comunitária (Lei 9.612/98) restringe a operacionalidade, bem como “sustenta” o caráter criminoso às rádios comunitárias. Primeiro, porque determina que uma rádio comunitária deve representar legalmente uma iniciativa formada por uma comunidade sem fins financeiros, coibindo assim anunciantes. Sem propaganda, como as rádios comerciais, as emissoras devem operar com ajuda da comunidade, ou através de apoio cultural. O sentido dessa publicidade é o mesmo das emissoras legais, mas para fins legais deve ser difundida como um “auxílio” de uma empresa ou anunciante para incentivo da proposta cultural da emissora. A emissora comunitária que vender espaços em sua grade é fechada. Contudo, os principais motivos que levam ao fechamento das rádios se dão nos quesitos de alcance e potência.

Conforme a Lei, a antena transmissora de uma rádio comunitária não deve ultrapassar de 30 metros de altura. O raio de alcance no espectro eletromagnético deve ser igual ou inferior a mil metros, a partir da antena. A área de cobertura é de apenas 1 km de raio, o que reduz o conceito de comunidade a aspectos meramente físicos, tudo isso porque restringe o alcance da emissora a um espaço inexpressivo, além de excluir as comunidades rurais ao serviço. Os transmissores devem funcionar com 25 watts. Também só podem operar em uma frequência estabelecida em cada cidade. Mesmo contendo todos esses quesitos devem aguardar a concessão do Ministério das Comunicações.

Imagem criminosa

Por conta de todas essas exigências, existem inúmeras rádios que esperam pela concessão do direito de funcionar. A burocracia resulta na lentidão da aprovação pelo Ministério, que coloca a Anatel como principal entrave, quando o órgão fiscaliza as emissoras comunitárias. Outra dificuldade se encontra na proibição de operar em rede, o que impede que micro-comunidades artificialmente limitadas a 1 km de raio possam buscar articulações e se comunicar, como uma comunidade real, com outras comunidades, bem como divulgar seus interesses, necessidades e reivindicações, como também realizar intercâmbio de informações diversas.

A coibição ao funcionamento das rádios comunitárias ainda é vista como um atentado à democracia e o acesso irrestrito à informação. Os agentes da Polícia Federal compreendem ações de combate ao crime, quando requisitados pela Anatel, órgão que fiscaliza as rádios comunitárias. São apreendidos equipamentos e até prisões são determinadas, gerando situações que determinam ainda mais a aparência de atividade criminosa para as rádios.

Conforme o professor e coordenador do informativo eletrônico Sete Pontos, Adilson Cabral, a Lei 9.612/98 e o Decreto 2625/98 precisam ser alterados para que as rádios alcancem seu funcionamento prático, se não os atores envolvidos com comunicação comunitária continuarão a esgarçar os limites legais para conquistar seus objetivos.

Muito da imagem criminosa ligada às rádios comunitárias é pelo serviço às empresas de pequeno porte, que não têm capital para investir em empresas de radiodifusão maiores. Esse serviço – onde as empresas ajudam à comunidade de alguma maneira, em troca de divulgação – é visto pelas rádios comerciais como um mercado concorrente. Logicamente, as rádios de grande porte se sentem lesadas por perderem clientes que “deveriam” comprar seus serviços de radiodifusão comercial, além do receio de perder audiência da comunidade onde as rádios comunitárias estão localizadas.

Instrumentos de inclusão social

Há também o outro lado da moeda: conforme estudos realizados por Venício A. de Lima e Cristiano Aguiar Lopes, no livro Rádios comunitárias – coronelismo eletrônico de novo tipo, existem mais de duas mil rádios autorizadas pelo Ministério das Comunicações que funcionam como instrumento de “barganha política”, o que denota a prática de coronelismo eletrônico [Lima, Venício A., Lopes, Cristiano Aguiar, Rádios comunitárias – coronelismo eletrônico de novo tipo (1999-2004), pesquisa divulgada como artigo no site. Os autores apontam que cinco estados do país (Santa Catarina, Espírito Santo, Tocantins, Alagoas e Amazônia) apresentam o maior índice de rádios envolvidas com políticos. Essa prática de se apossar dos meios de comunicação comunitários a fim de aumentar seu carisma e poder diante do povo de uma determinada região acaba deturpando o conceito de rádios comunitárias.

As rádios comunitárias ganharam cada vez mais espaço nestas últimas décadas pela facilidade de acesso à tecnologia e por oferecer informação e espaço a um público que não se vê representado em emissoras comerciais. Ao contrário, numa emissora comunitária os atores sociais têm acesso aos colaboradores da rádio, podem até mesmo interagir com maior facilidade, além de que para o comércio de uma comunidade fica mais viável colocar seu anúncio ali do que numa emissora de maior porte. Esse fator, o econômico, talvez auxilie na estigmatização das rádios comunitárias como “organizações criminosas”.

Essa perseguição e a burocracia para o funcionamento de uma rádio comunitária, bem como o uso destes meios alternativos para fins políticos, podem até resultar numa imagem negativa para as emissoras, porém é vital a existência deste tipo de comunicação para o funcionamento da democracia no Brasil.

As rádios comunitárias, atualmente, podem ser declaradas como instrumentos de inclusão social. Além disso, a comunicação exercida por estes veículos comunitários funciona como integradora social. Portanto, o tema deve ser cada vez mais debatido e até mesmo pesquisado, para que os processos de legalização sejam mais rápidos, como também a própria legalização destas rádios acabe com a imagem preconceituosa que ainda existe para quem desenvolve tal comunicação alternativa no Brasil. Fonte

O jornalismo diante das novas mídias

"A sociedade está 'surfando na onda das aparências' e não tem os meios de controlar o que é verdade." (Muniz Sodré)


Durante séculos, a imprensa orgulhou-se de ser insubstituível. Era o motor, o maestro e o filtro da sociedade. Elegia e derrubava presidentes, ditava moda e construía mitos. A partir de meados da década de 1990, com a popularização da internet, a irrevogável evolução tecnológica universalizou o conhecimento. Nasceram os sites de busca, os blogs e as mídias sociais. Profetas vaticinaram: livros e jornais impressos estão destinados a desaparecer porque o futuro é digital. Cidadãos comuns converteram-se em emissores de notícia, com textos curtos e fragmentados. Twitter, Facebook e Orkut se apresentaram como novas fontes de informação quebrando as barreiras entre a notícia e a sociedade. E até os jornalistas passaram a usar essas ferramentas como matéria-prima para reportagens e artigos.

Na semana passada, uma nova farsa do mundo virtual veio à tona: uma jovem lésbica síria que mantinha um blog com fortes críticas ao governo do presidente Bashar Al-Assad era, na verdade, um estudante de pós-graduação americano que vive na Escócia. Pouco antes de revelar a mentira, o estudante chegou a inventar que a autora do blog “Garota gay em Damasco” havia sido sequestrada a mando do governo. No início de junho, uma outra face do uso das mídias sociais entrou em pauta. O jornalista Bill Keller, que ocupou durante oito anos o cargo de editor executivo do jornal The New York Times, publicou um artigo criticando o uso indiscriminado da tecnologia nas relações pessoais. O Observatório da Imprensa exibido ao vivo na terça-feira (21/6) pela TV Brasil discutiu o impacto das novas mídias na sociedade e no trabalho da imprensa.

Para discutir o tema, Alberto Dines recebeu no estúdio do Rio de Janeiro o jornalista e escritor Muniz Sodré. Mestre em Sociologia da Informação e Comunicação e doutor em Letras, Sodré é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional. É autor de mais de 30 livros na área de Comunicação. Em São Paulo, o programa contou com a presença do jornalista Caio Tulio Costa, que foi o primeiro ombudsman da imprensa brasileira. Caio Túlio trabalhou na Folha de S.Paulo durante 21 anos. Foi um dos fundadores do UOL, do qual foi diretor geral até 2002. Ex-presidente do iG, atualmente é consultor de mídias digitais e professor de Ética Jornalística.

Informação superficial

Em editorial, Dines criticou a preferência da sociedade pela velocidade em detrimento da profundidade. “A contribuição mais forte para o fim dos jornais começou a ser oferecida pelos próprios jornais, quando anunciaram formalmente o seu próximo fim. O episódio mais recente deste suicídio coletivo aconteceu há poucos dias quando o Guardian, um dos jornais mais importantes e bem sucedidos da Inglaterra, anunciou que passaria a investir maciçamente na sua versão digital, que absorveria o noticiário quente. A versão impressa ficaria com as análises, opiniões e a contextualização do que seria veiculado pela internet”, comentou Dines.

Antes do debate no estúdio, a reportagem produzida pelo programa mostrou a opinião da jornalista Míriam Leitão, que atua tanto na imprensa convencional como nas novas plataformas. Para Míriam, o jornalista precisa ter consciência de que a informação veiculada por profissionais de imprensa nas redes sociais tem um peso maior do que as demais notícias que circulam no mundo virtual: “A estrada existe para todo o mundo, mas nós somos os profissionais do volante nesta estrada”.

Amante dos livros em formato tradicional e da palavra impressa, a jornalista explicou que vê com bons olhos a criação de novas plataformas, mas que torce para que as bibliotecas continuem a ter espaço nas casas. “Digamos que acabe este livro, esta idéia que foi inventada por Gutenberg, e que os livros sejam só eletrônicos daqui em diante. O livro é sempre a alma, a ideia, e isso vai continuar para sempre”, avaliou.

O que é real?

A coordenadora de Jornalismo da UFRJ Cristiane Costa contou que, durante a Guerra do Golfo (1990-1991), o perfil de um conceituado blogueiro chamou a atenção da opinião pública. Sob o pseudônimo de Salam Pax,o internauta abastecia seu diário virtual com informações de dentro de Bagdá, conflagrada pelos bombardeiros, enquanto os jornalistas das mídias tradicionais se limitavam a acompanhar as tropas aliadas. Apesar de as informações do blog “Where is Raed?” serem verdadeiras, a opinião pública desconfiou da existência do blogueiro porque parecia irreal que um arquiteto, gay e junkie morasse em Bagdá.

Na era das novas tecnologias, o diferencial, na avaliação do jornalista Arnaldo Cesar, é a qualidade da informação, independente plataforma em que é publicada. “Para você ter conteúdo de qualidade, tem que ter boas fontes de informação e a informação tem que ser checada e rechecada antes de ser impressa ou publicada. Eu acho que o New York Times e os jornais no mundo todo ficaram meio perdidos em relação a isso e hoje já começam a encontrar um caminho”, disse o jornalista. Leão Serva, que foi diretor de Jornalismo do iG e hoje é diretor de Redação do Diário de S.Paulo, comparou as informações que circulam nas redes sociais às cartas anônimas. Nas duas situações é necessário checar a fonte, apurar e ouvir o outro lado da questão. “Eu acho que esses mesmos cuidados são necessários, embora em uma versão digital”, disse Serva.

Convivência pacífica

As novas tecnologias não se sobrepõem aos meios tradicionais, na avaliação de Luiz Garcia, articulista do jornal O Globo: “A imprensa sempre sobreviveu aos novos meios de comunicação. A quantidade de informações que são passadas à opinião pública é sempre muito grande, mas cada um tem a capacidade de escolher e selecionar o que acha melhor. Não creio que algum tipo de mídia diferente, novo, que pode fazer muito sucesso inclusive pelo fato de ser novo, pode afetar as características próprias das mídias mais antigas”.

De Nova York, o correspondente Lucas Mendes comentou a atuação de Bill Keller no NYTimes. “Foi sob o comando dele que o jornal decidiu cobrar pelo acesso online para compensar a brutal queda no faturamento da publicidade. ‘Sem uma nova receita, o fim do Times é inevitável’ – quem diz é o próprio editor-executivo”, contou o jornalista.

No debate ao vivo, Dines perguntou a Caio Túlio Costa se, quando assumiu a direção do UOL, imaginava o rápido desenvolvimento tecnológico que se seguiria, a ponto de ser decretado o fim do jornalismo impresso. “Quando a gente criou o UOL, não tínhamos a noção exata do que estávamos fazendo”, contou Caio Túlio. A ideia, segundo ele, era tentar reproduzir no Brasil o sucesso das grandes provedoras daquele momento, como AOL e a Compuserve. Intuitivamente, a equipe já tinha em mente que para a iniciativa ser bem sucedida era preciso um grande número de pessoas conectadas ao site para garantir o faturamento. Os assinantes e a publicidade deveriam sustentar o provedor.

Verdades e mentiras

Caio Túlio relembrou casos amplamente divulgados em que a mentira estava presente na mídia tradicional, como o do ex-repórter do NYTimes Jayson Blair, que admitiu publicamente, em 2003, que plagiava textos e inventava informações em suas matérias. “Isso faz parte do jogo e evidentemente, o jogo está muito maior agora, com muito mais alcance, com quase uma impossibilidade de controle. E nós, que somos formados nessa mídia tradicional, somos loucos para controlar. Acho que a questão que se coloca é essa: esse controle ficou muito mais difícil e muito mais complexo”, avaliou o jornalista.

O fator humano acaba fazendo com que situações como essas ocorram em qualquer plataforma. “Nós, enquanto jornalistas, trabalhando tecnicamente a informação e agora tendo a concorrência de pessoas, cidadãos – bem intencionados e mal intencionados – de instituições e de empresas, continuamos enfrentando os mesmos problemas de sempre”, sublinhou Caio Túlio.

Para Muniz Sodré, a tecnologia é fascinante porque conserva enigmas e incertezas. “Eu acho que frequentemente perdemos de vista determinadas coisas porque tendemos a avaliar os objetos culturais isoladamente. Foi como o rádio e a televisão. Na verdade, todos esses objetos e dispositivos formam, para mim, um paradigma em que se tenta duplicar o universo anterior”, analisou o professor. Esta duplicação se dá na direção da velocidade, necessária ao sistema capitalista. “O valor ‘ético’ passa a ser o rápido, o veloz. Não é o profundo, o humano o autêntico. Essa duplicação e essa aceleração matam o sentido”, afirmou Muniz Sodré.

A busca pela novidade

O professor acredita as novas tecnologias da informação põem em pauta a crise do sentido e da palavra. E a imprensa é um “pálido reflexo” dessa crise mais profunda. Jornalistas e consumidores estão fascinados pelas novas tecnologias, na avaliação de Muniz Sodré. Muitas vezes, buscam os mais recentes lançamentos sem saber ao certo para o que servem aquelas ferramentas. “Há uma coisa mais grave. É um pouco como a indecisão de um cientista subatômico diante de um objeto subatômico: não sabe se é onda ou se é partícula. Em um nível macro da história, nós, diante de um fato, não sabemos quais são os padrões de verdade, de realidade, de imaginário. E isso parece não importar mais”, observou Sodré.

Para o professor, a sociedade está “surfando na onda das aparências” e não tem os meios de controlar o que é verdade. O jornalismo sempre ofereceu a possibilidade de estabelecer a distinção entre real e irreal porque havia um pacto de credibilidade implícito. Sem uma pausa na transmissão das informações, os dados apenas se multiplicam, sem uma reflexão aprofundada. “Se esse pacto se rompe, essa informação tão abundante, tão prolífica, é tão fascinante quanto o aparelho novo, mas não vale nada”, disse Sodré. Fonte

Por que os jornais temem tanto os jornalistas?

“Regras de uso de Twitter a afins, criados por grandes conglomerados de comunicação, são a prova de que jornalista, se livre, é perigoso.” (Mário Bentes)

A citação acima é de minha autoria e foi publicada no dia 17 de maio deste ano em meu perfil da rede de microblog Twitter. Tenho, no momento em que escrevo este artigo, 1.777 seguidores que acompanham tudo o que escrevo e repercuto a partir de terceiros, na mesma rede. Deste montante – muitos são jornalistas –, apenas quatro pessoas deram o chamado retweet, quando repercutem para seus próprios seguidores, na íntegra, uma dada micro-postagem. Das quatro pessoas que gostaram do que escrevi (os outros podem simplesmente não ter concordado, evidentemente), duas são jornalistas. Coincidentemente, ambos estão fora das redações dos “grandes conglomerados”.

Mas será mesmo coincidência? Ou será que alguns jornalistas deixaram de concordar publicamente – aplicando o retweet – para evitar algum tipo de atrito com seus editores e demais chefes nos jornais onde trabalham? Levanto tal questão a partir do que creio ser uma modinha (alguns chamam de tendência) entre os representantes da “grande mídia”. Recentemente, alastrou-se pelos jornalões a prática de criar o que chamam de “regras de uso de redes sociais” para jornalistas. Resumindo, são coisas que os jornalistas “devem evitar” nas redes sociais, a exemplo do Twitter, Facebooke similares. Nos EUA, redações do Washington Post, Bloomberg e a agência de notícias Reutersestão entre os exemplos. No Brasil, Folha, Globo e TV Recordseguiram o modelo.

A justificativa dos diretores e sócios destes veículos de imprensa é que, na ocasião de algum jornalista assumir alguma posição a respeito de algum tema, seja ele um partido, um candidato ou uma campanha, a credibilidade do jornal ou emissora ficaria ameaçada; ou que opiniões pessoais dos jornalistas sejam confundidas pelos leitores com a posição oficial do jornal. Isso para ficar nos argumentos mais usados. Mas será isso mesmo? Creio que o buraco é mais embaixo e esconde muito mais ou mesmo nada que esteja relacionado com mera preocupação com “credibilidade” do jornal ou do jornalista.

Concentração de mídia

Antes de falar especificamente sobre a mais nova modinha dos jornais, vamos deixar algumas coisas claras, para começar. Tal como a renda econômica, a concentração de mídia no Brasil é enorme. A esmagadora maioria dos jornalões de todo o território são ligadas a famílias “tradicionais” que, não raramente, estão ligadas a partidos políticos ou seus donos, geralmente “ricos” e ocupam cargos eletivos – o que contraria a Constituição Federal, que proíbe outorgas de rádio e TV para políticos.

Dados do portal Donos da Mídia mostram que existem, pelo menos até a ocasião da minha consulta, 41 grupos de abrangência nacional que, juntos, controlam 551 veículos de comunicação – jornais impressos, emissoras de rádio e TV, revistas, portais e agências de notícias. De acordo com a mesma fonte, os grupos de comunicação possuem 19.466 sócios, sendo destes 271 políticos. Este último número são os “caras-de-pau”, que colocam seus nomes nos contratos sociais das empresas sem se importar com a legislação – já que é o próprio Congresso, cheio destes políticos-comunicadores, que deveria atentar a isso. Mas o número é bem maior, se considerarmos a infinidade de sócios que são parentes ou têm ligações diretas ou indiretas com políticos – os carinhosamente chamados “laranjas”. Estes, com o perdão da piada infame, estão frutificando a cada dia.

O mesmo não vale para as rádios comunitárias, por exemplo. As outorgas dessa categoria levam anos para sair por conta de imensa burocracia e, enquanto as rádios não são legalizadas – apesar de prestarem importantes serviços às suas comunidades –, são taxadas de “rádios piratas”, capazes de derrubar aviões, ou estão a serviço do crime organizado, tráfico de drogas e outras sandices do discurso dominante. Para piorar, muitas das rádios que deveriam ser comunitárias, são “empossadas” por grupos de interesse privado ou mesmo por políticos de menor escalão (porém não com menor gana por poder e dinheiro), como vereadores de botequim e outros aspirantes a novos ricos do dinheiro fácil.

Resumindo: só quem se comunica massivamente neste país são os ricos e poderosos. Não se trata de discurso démodé ou de esquerdista – geralmente é taxado deste modo quem assim pensa. São os números e o contexto político do país que mostram, contra a vontade dos poderosos, que a grande maioria da população é ainda desprovida do poder de informar sua realidade sob a ótica de sua própria realidade, mas apenas pela visão quase unilateral da chamada “grande imprensa”. Entre parte da população não emancipada comunicativamente estão – vejam que engraçado – os próprios jornalistas. Sim, porque quem acha que um jornalista, por atuar em um jornal ou emissora, tem liberdade de expor tudo o que apura sob o viés que crê mais próximo do real, se engana.

Pluralidade de conteúdo

O material captado pelos jornalistas passa por um editor, por um editor-executivo, por um chefe de redação e, em alguns casos, pelo dono do veículo. E é bem comum que parte do material seja descartado por “questões editoriais”. Só quem é jornalista, e sabe de fato o que vê durante sua apuração, sabe que por aí caminha a mais pura e sem-vergonha farsa dos jornais: o filtro das notícias, ou de parte delas, também chamado de gatekeeping, é muitas vezes a desculpa cínica sincera para censurar o que os donos dos jornais acreditam que seus leitores não devam ver. Eles decidem, por tais “questões editoriais”, o que o público precisa ou não ter conhecimento. Para uma analogia perfeita, vejam (ou leiam) Cidadão Kane, de Orson Welles. (Muito além do Cidadão Kane é outra pedida, para o caso brasileiro.)

E assim, os jornalistas, desprovidos de meios próprios onde pudessem dar suas opiniões pessoais, foram reféns deste sistema durante muito tempo. Mas aí veio uma tal de internet que, ao contrário da lógica comercial natural da tecnologia dos grandes interesses industriais, acaba sendo mais democrática. E com ela, mais tarde, surgiram os blogs, as redes sociais etc. E como foi interessante a internet para os jornalistas! Aos poucos, criaram seus blogs, seus perfis no Twitter, Buzze Facebook, entre outros, e começaram a escrever. A novidade: sem os filtros dos editores, dos editores-executivos e, claro, dos donos dos jornais. E não é que isso incomoda?

Incomoda e muito. Os jornalões viram que os jornalistas, em seus espaços independentes, têm poder – ainda bem limitado e inferior, que fique claro – de, indiretamente, influenciar o público; de dar suas opiniões na grande rede e de dar outras visões, além da massificada pelo Jornal Nacional e similares. No Twitter, o público leitor acompanha os perfis da “grande imprensa”, mas faz questão de acompanhar os perfis particulares dos jornalistas. Até porque “informação”, como dizem, “nunca é demais”. Os jornalistas precisam dos empregos para sobreviver, não para agir como jornalistas. Mas os jornais precisam dos jornalistas para funcionar, independente de qualquer coisa. De qualquer modo, isso deveria ser bom, pois a multiplicação das fontes de informação, sejam elas empresas de comunicação ou pessoas capazes de bem informar (independente da formação em jornalismo), poderia garantir pluralidade de conteúdo. E o problema é justamente este: pluralidade.

A velha prática

Quando os jornalistas passaram a dar suas próprias opiniões sobre temas gerais, passaram – na cabeça comercial doentia dos patrões – a competir com os jornais, na medida em que forneciam conteúdo não necessariamente igual ao dos veículos onde atuam. Como já vimos, a maioria dos veículos de comunicação no Brasil (a situação fora daqui não é muito diferente) é ligada a políticos, portanto cheios de interesses comerciais e, claro, eleitorais. E os patrões passaram a ver como ameaça essa tal liberdade dos jornalistas. Livres, sem amarras, se tornaram perigosos para os negócios.

Quando os jornais, ao implantar regras de uso em redes sociais para os jornalistas que com eles trabalham, usaram o argumento que opiniões de jornalistas podem ser confundias pelo “público” como sendo as do próprio veículo, não tenham a menor dúvida: o público a que eles se referem são os seus clientes, aqueles que negociam “notícias imparciais” em troca de publicidade extra. O público que eles tanto fazem de conta defender não está na população, de fato. Aliás, o tal público leitor não é idiota, como os jornais fazem questão de acreditar ou de fingir que acreditam. O público sabe que jornalistas podem ter opinião própria, assim como sabe que jornalistas podem ser vendidos e opinar de acordo com que o chefe quer – inclusive de criticar os jornalistas verdadeiramente livres. O público só não é idiota.

Diante de cenário tão ameaçador – informações sobre muitos vieses, opinião própria, pluralidade de conteúdo e de análises –, os jornalões não tiveram dúvida em dar um basta nisso. Ora, esse samba do crioulo-doido, conhecido vulgarmente como democracia e liberdade de expressão, precisava parar! Essa anarquia de conteúdo, que comprometia e compromete o business e o establishment, devia ser detida. E os jornalões, que adoram falar de liberdade de expressão quando se sentem ameaçados por qualquer um que ouse processá-los por, por exemplo, quebrar seu sigilo fiscal – quando nem a Justiça o fez – ou condená-los por um crime sobre o qual nem sequer foram julgados, recorrem justamente à velha prática da censura.

A inconstitucionalidade das medidas

Não estamos falando de censura propriamente dita, às claras. Os manuais de uso de Twittere afins não dizem que jornalistas não podem usar as redes. Eles fazem pior. Os manuais “recomendam” a não manifestação de posições políticas e similares sob o argumento pífio, citado acima, de que tais podem prejudicar a “credibilidade” e “imagem” do veículo. Ora, não estando definido exatamente o que pode ou o que não pode, o que fazem os jornalistas? Calam-se de maneira abrangente sobre assuntos que tratariam normalmente e passam a falar de amenidades ou, em alguns casos mais extremos, optam por excluir-se das redes sociais. Afinal, diante de tanta subjetividade, quem garante que minha singela reclamação de um posicionamento político de um parlamentar da Indonésia não será entendida como subversão aqui no Brasil?

Aí entra o primeiro crime. Assédio moral dentro do ambiente de trabalho. Pode parecer interpretativo, mas eu, particularmente, entendo que a simples possibilidade de punição, ou mesmo a perda do emprego por algo não necessariamente definido claramente como desvio de conduta por parte do profissional, no caso o jornalista, pode e deve ser encarado como assédio moral. Trabalhar sob risco de demissão quando a justa causa é, no mínimo, subjetiva, pode ser entendido assim. É uma espécie de chantagem com os trabalhadores.

O segundo crime é o da inconstitucionalidade das medidas. Está lá, na Carta Magnado país, que é direito de qualquer cidadão (jornalistas também se enquadram no perfil, queiram ou não os patrões) a livre manifestação do pensamento, independente de credo, religião, posicionamento político. Em outras palavras, é censura. O que os jornais fazem com os jornalistas hoje com as tais regras de uso não é nada diferente do que fazia o Departamento de Ordem Política e Social (Dops) no período da ditadura militar, só que sem tortura física. Usam do supracitado assédio moral e ameaça de demissão.

Direito para um, direito para todos

A Constituição, além de garantir liberdade de expressão, também fala em direito de ir e vir, acesso à educação, saúde e outros itens raros no mercado. Ela não diz que o cidadão da República Federativa do Brasil tenha que optar entre um e outro, mas diz que ele tem direito a todos eles. Portanto, o que peço aos colegas jornalistas é que, tal como preza a Constituição, não cedam à chantagem patronal e não optem pelo salário em troca de manter-se em silêncio e perder a liberdade. Não é fácil, posso garantir. Sei o que é ter a liberdade, sobretudo o emprego, sob ameaça dos interesses particulares.

Mas é importante deixar bem claro que, a partir do momento em que o cidadão livre, seja ele jornalista ou não, se deixar levar pela ameaça de perder um dos seus direitos garantidos há quase 30 anos depois de um período de sangue, suor e lágrimas, eles estará criando o caminho sem volta para que outros sejam retirados. E, de quebra, estará desonrando os que morreram em nome de tais direitos.

Com as “regras de uso” de redes sociais para jornalistas, os jornais, ainda que de maneira aparentemente não combinada entre si, acabam por criar, juntos, um momentaneamente heterogêneo Ato Institucional da Imprensa Nº 1(AII-1). Da forma em que as coisas andam, com os donos dos jornais cada vez mais inseridos no parlamento de Brasília e colocando seus interesses particulares e empresariais acima dos interesses públicos e coletivos, receio que não demoraremos a chegar no AII-5.

Afasta de mim, e de todos nós, este cale-se.

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Importante: a liberdade de opinião e expressão na internet, em contrapartida à tirania da “grande mídia”, vale também para não-jornalistas. Existem muitos cidadãos que exercem outras funções durante a vida que não o jornalismo, mas que exercem papel fundamental de dar visões diferentes das massificadas pela imprensa corporativa. O artigo se concentra nos jornalistas por conta, especificamente, do assunto tratado, que são as famigeradas “regras de uso” das redes sociais – que não exercem impacto direto na atuação dos não-jornalistas.

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[Mário Bentes é jornalista, redator, escritor e fotógrafo] Fonte

terça-feira, 21 de junho de 2011

Coordenador de Jornalismo da PUC responde à coluna polêmica de David Coimbra

"David Coimbra, mais do que amigos, eu tenho uma turma de malas. E isso me dá um baita orgulho." (Vitor Necchi)


Vitor Necchi
Foto: Bruno Barreto

O coordenador do curso de Jornalismo da PUC-RS, Vitor Necchi, criticou a coluna do jornalista David Coimbra, "Eu não tenho turma", publicado no jornal Zero Hora de sexta-feira, 17 de junho.

Tomei conhecimento do assunto, através do twitter do jornalista Carlos Guimarães da rádio Band AM e Ipanema FM de Porto Alegre.

Confira na íntegra à resposta:

Quando me sinto cansado demais, quando tenho muito o que fazer, quando fico tenso, quando o dia e a semana exigem e parece que o tempo não será suficiente para tudo, nesses momentos fraquejo e tenho vontade de chorar. Hoje foi um dia assim. Pelo menos em dois momentos quase chorei, mas me contive, porque frescura tem hora, né? Mas o fato é que esta sexta-feira, que nem diria um saudoso e sensível ex-aluno, esta sexta-feira veio de gangue pra cima de mim.

Logo cedo me irritei profundamente com a crônica do David Coimbra em ZH. Intitulada "Eu não tenho turma", ele dispara sua cólera retórica contra petistas, ecologistas, budistas meditadores, veganos, feministas e defensores dos animais, todos perfilados sob o mesmo adjetivo: malas. Seguindo a verve de cronista esperto, ele dispara contra alguns religiosos, liberais, saudosistas da ditadura, racistas, integrantes do movimento negro, antitabagistas, o pessoal da Massa Crítica e linguistas e intelectuais que discutem preconceito linguístico. David Coimbra se mostra irritado com os malas organizados que enchem o saco dele. E dispara: "Eu não tenho turma, eu não quero ter turma, com exceção das pessoas de quem gosto, que não formam uma associação, que não são ONG (malas!), nem movimento de coisa nenhuma".

Pois num dia que se iniciou me irritando com o texto do David Coimbra e que me deu vontade de chorar durante seu desenrolar em razão da loucura da vida, esse dia terminou há pouco e eu sorri porque sou um mala. Tive vontade de sorrir, sobretudo, porque tenho amigos malas que acreditam no poder que têm de transformar o mundo, por mais clichê que isso possa soar para os espertos que não gostam dos malas que se agrupam em torno de causas comuns.

É madrugada de sábado. Moro no Rio Grande do Sul, o estado mais meridional do Brasil onde o frio não é retórica. Mais do que chamariz para turistas encasacados, o frio sulino fere a carne e a dignidade de quem vive nas ruas. O povo das ruas, que muitos chamam de mendigos, desocupados, bêbados, viciados ou vagabundos, são pessoas que em algum momento da vida perderam o vínculo com a formalidade do mundo. A família, o teto, o trabalho, a capacidade produtiva, os afetos, o orgulho, as posses, tudo ficou para trás, e a rua, sedutora e perigosa, se tornou abrigo desse contigente. A rua, dizem, é de todos, e ela recebe quem se esquiva da vida pretérita ou quem teve seu futuro subtraído.

É madrugada de sábado em Porto Alegre e pela primeira vez em muitos intermináveis anos o seu Valdir terá um teto. Em Viamão, município vizinho desta Porto Alegre gelada, seu Valdir e sua cadela, a Princesa, se encontram abrigados numa casa. Deve estar meio escuro, pois a correria e a excitação causadas pela bondade impediram que os benfeitores se lembrassem de solicitar à CEEE que a eletricidade fosse restabelecida na casa humilde, mas tudo bem. O escuro não deve assustar quem sobreviveu no hiato da vida mimetizada sob a curva de um viaduto cinza.

É madrugada. Na sexta-feira que se encerrou há pouco, fiquei irritado com o David Coimbra e a exaustão me deu vontade de chorar, mas em poucos minutos deitarei sorrindo porque tenho amigos malas que formam um grupo e compartilham crenças. Entre esses malas, há aqueles que salvam animais. A Thiane, por exemplo, é muito mala, essa guria. Vocês não imaginam quantos animais ela já salvou e conduziu a uma casa onde fossem bem tratados. Dezenas de malas doam dinheiro para a Thiane, compram as rifas da Thiane, comparecem aos bazares organizados por ela com o único propósito de ajudar gatos. Cada vez que eu faço uma doação para ela, sei que a causa desta mala dá mais um passo. Confio cegamente nessa mala e seguirei contribuindo com suas loucuras. Há outros malas que conheço e que abrigam em suas casas animais enxovalhados por seres humanos. Eu mesmo sou um mala. O Rufus e seus três irmãos foram resgatados de dentro de um saco amarrado jogado num mato. A morte era certa, mas a Candice resgatou a prole e cuidou dos gatinhos até eles completarem dois meses. Um deles é o Rufus, que há mais de dois anos mia todo dia quando pressente minha chegada. Outra mala é a Cleide, que resgatou a Yolanda na beira de um esgoto na Região Metropolitana. Quando a trouxe para casa, ela tinha medo das pessoas, do vento, de espirro. Com o tempo, a vilania dos chutes e pedradas restou no passado e ela foi se chegando, se aninhando. Hoje, a linda gata plúmbea lambe minha barba antes de deitar ao meu lado e esfrega a cabeça na mão das visitas.

Mas a mala suprema da semana e de todos os dias é a Katarina, amiga exuberante que transborda afeto e indignação. Essa mala tem uma turma de malas que compartilham sentimentos. A Katarina, mala como sempre, descobriu seu Valdir e sua Princesa na rua. A força do seu olhar insubordinado detectou que a dignidade podia ser devolvida para este cidadão que vive na rua mas não é da rua. Ela descobriu que seu Valdir teria direito a benefícios sociais e foi atrás deles. Ela acenou e os amigos malas atenderam. Uns deram dinheiro, outros, móveis e roupas. Foram dias e dias de mobilização, e o resultado é que o seu Valdir se encontra, nesta madrugada gelada, abrigado sob um teto que pode chamar de seu.

Nesta madrugada gelada que sucede um dia tenso de uma semana louca que me deu vontade de chorar, vou para a cama sorrindo porque a Thiane é uma mala, a Candice é uma mala, a Cleide é uma mala. Deito sorrindo porque tenho amigos malas. Deito emocionado porque a Katarina é uma mala imensa. A bondade e o amor não são clichê, nem cafonice, muito menos retórica na vida da exuberante Katarina. E essa malice contagia.

David Coimbra, eu amo meus amigos malas. Eu me inspiro nos militantes malas. Eu respeito as ONGs malas. Eu financio malas que cuidam de bichos escorraçados. Eu defendo malas negros, gays, deficientes, travestis, ambientalistas. Eu me somo aos malas que ampararam seu Valdir e sua cadela. Eu tenho uma amiga chamada Katarina que tem o coração do tamanho de uma Kombi anos 70 e, de tão mala que é, de tão obstinada, de tão desbragadamente mala, conseguiu dar dignidade a um homem que precisava apenas de um aceno para recompor sua vida.

David Coimbra, mais do que amigos, eu tenho uma turma de malas. E isso me dá um baita orgulho.

Vitor Necchi- Coordenador do Curso de Jornalismo da PUCRS
Fonte

Coluna polêmica do jornalista David Coimbra, AQUI.

David Coimbra: Eu não tenho turma

"Não, eu não quero ter turma. Não quero votar em lista. Quero poder apontar exatamente para onde vai o meu voto: para aquele ali. Pronto. Eu decido o mala que vai falar por mim." (David Coimbra)

David Coimbra
Foto: Blog Coordenação do Livro e Literatura

O jornalista David Coimbra do jornal Zero Hora (Grupo RBS) de Porto Alegre escreveu um texto polêmico na sexta-feira, 17 de junho, em que ofende e critica partidos, ambientalistas, religiosos... ao chamá-los de MALAS.

O tema do assunto eu conheci através do twitter do jornalista Carlos Guimarães da rádio Band AM e Ipanema FM de Porto Alegre.

Confira na íntegra a coluna:

"Os petistas são uns malas. Os ecologistas inimigos dos sacos plásticos, os budistas meditadores, os (cruzcredo) veganos, as feministas, os defensores dos animais, todos esses são uns malas. Insuportavelmente malas também são os evangélicos, os mórmons de camisa de manga curta, os católicos recitadores da Bíblia, os liberais de fóruns e os idiotas que suspiram pela ditadura. Malas, e além de malas tacanhos atrasados, são os racistas de qualquer cor, mas alguns integrantes do Movimento Negro também sabem ser malas.

Os antitabagistas são malíssimos e a Massa Crítica aquela é uma mala pedalante. Os malas modelo 2011 saltaram de um repositório de malas: a Academia. São os linguistas e intelectuais que juram que há quem sofra com o “preconceito linguístico”.

Eu aqui bem posso ser um tremendo mala, mas pelo menos não fico tentando cooptar os outros para a minha malice, nem crio sites em defesa da minha malice, nem saio a gritar que a minha malice é a salvação do planeta. Vocês, malas organizados, fazem isso. Não me encham o saco, seus malas!

Eu não tenho turma, eu não quero ter turma, com exceção das pessoas de quem gosto, que não formam uma associação, que não são ONG (malas!), nem movimento de coisa nenhuma.

Esses malas idealistas dizem que tudo é ideologia. NÃO É. Tudo pode ser político, inclusive ser apolítico, mas nem todo mundo tem ideologia. Porque ter ideologia significa, SIM, ser alinhado, ter uma escola de pensamento ou algo que o valha. Eu não sou alinhado com escola nenhuma. Quero poder criticar e elogiar a quem e o que bem entender, quero ter independência no meu julgamento sem ser classificado, rotulado e identificado com o que quer que seja.

Tempos atrás, quando trabalhava na política, concordava com os políticos quando eles diziam que os partidos têm de ser valorizados. Que valorizar o partido é fortalecer a democracia. Concordava com isso. Hoje nem tanto. Por quê? Por causa dos malas dos partidos.

Quais são os partidos mais orgânicos do Brasil? Os malas do PT e os malas do DEM, esse legítimo herdeiro da ditadura militar. Mas quem é o PT e quem é o DEM? O PT é o PT do Raul Pont ou o do Palocci? Do Olívio Dutra ou o do Zé Dirceu? E o DEM? É o DEM gaúcho ou o do Nordeste profundo do Brasil?

Alguns partidos tentam, mas não conseguem ser turma. Outros nem tentam. Então, se for votar “em lista”, como pretendem alguns ao propor a reforma política, vou votar em quem? Em que turma?

Não, eu não quero ter turma. Não quero votar em lista. Quero poder apontar exatamente para onde vai o meu voto: para aquele ali. Pronto. Eu decido o mala que vai falar por mim."
Fonte

Resposta do coordenador do curso de Jornalismo da PUC-RS, Vitor Necchi, AQUI.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A ética vale quanto?

“Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas idéias e a nobreza dos seus ideais.” (Charles Chaplin)


Por: Ivan Sgarabotto

Uma das situações mais normais da vida profissional, é trocar de lado, digo, trabalhar em outra emissora, numa concorrente, para ter um salário maior e condições de trabalho melhores.

O que é estranho, quando um "profissional" diz publicamente uma 'coisa' "NO AR", e em "OFF", ou "FORA DO AR", sabe-se que é puro jogo de cena, para chamar atenção e posteriormente ser contratado pela outra empresa de comunicação.

Os profissionais de comunicação (não todos, "lógico") parece venderem a ética, ao criticar a concorrente e logo após, com um salário superior, esquecer o que disse, e o público não entender nada, pois, ele falou uma coisa e tomou outra atitude.

A opinião existe e ela pode ser mudada, mas, não deixa de ser estranho. No Rio Grande do Sul ocorreu um fato curioso e até estranho com um certo profissional recentemente.

O atual coordenador da Atlântida e Itapema Porto Alegre, Alexandre Fetter, trabalhou por 10 anos na PopRock (concorrente da Atlântida na época) e sempre criticava a sua ex-emissora, que por coincidência era a Atlântida. Passado 10 anos, por surpresa o Fetter retornou a emissora jovem do Grupo RBS, com um salário muito maior e mais quase todo o cast da Pop Rock foi junto.

E o papel se inverteu, o Fetter 'estranhamente' cutuca a ex-emissora (PopRock), e praticamente ele apenas trocou o nome das rádios e as críticas são quase as mesmas, ou seja, como que fica o ouvinte, em quem ele pode acreditar?

Lógico que a história é mais ampla, e este é apenas um resumo. Em nível nacional, o comunicador Gugu, ex-apresentador do Domingo Legal e do SBT, que era o sucessor do patrão Sílvio Santos, saiu da emissora por um salário de R$ 3 milhões MENSAIS para a Record e até quebrou contrato e nem multa de rescisão teve, graças ao Sílvio Santos, a Record faria o mesmo se fosse o inverso?

Na quinta-feira, 16 de junho, o apresentador Datena, que comandava o Brasil Urgente da Band, retornou a Record, emissora que ele criticava muito no ar, principalmente por causa da religião e do jornalismo. Cogita-se que o salário que ele vai receber na emissora recordiana é de R$ 2 milhões MENSAIS.

Datena que tinha uma grande multa com a Record na justiça, devido à uma rescisão de contrato anterior que já beirava aos R$ 15 milhões (e agora a multa foi "esquecida/perdoada"), e a Band vai receber R$ 20 milhões de indenização pela quebra deste contrato recém renovado.

Existem muitos outros casos, mas, a pergunta que fica é: A ética vale quanto? Era pata ter valor? Afinal, esses fatos são antiéticos ou não? O público no mínimo deveria ter uma satisfação verdadeira dos profissionais de comunicação.

Jornalistas realizam ato em favor do diploma em Porto Alegre

"Contratar jornalistas sem formação acadêmica não invalida o diploma, apenas sugere que ter pistolão é melhor que ter canudo!" (Anônimo)


Ministros do STF foram simbolicamente ‘jogados no chão’
Foto: Marcio de Almeida Bueno

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS realizaram no final da manhã desta sexta-feira, dia 17 de junho, em Porto Alegre uma manifestação de protesto pelos dois anos da decisão do Supremo Tribunal Federal pela não-exigência do diploma em Jornalismo para exercício da profissão.

O manifesto ocorreu na Esquina Democrática - esquina da rua dos Andradas com a Borges de Medeiros, no Centro da capital gaúcha, com a participação de profissionais, estudantes do curso de Jornalismo, lideranças, políticos e simpatizantes se manifestaram em favor do diploma, do Jornalismo, da Educação e da Democracia, portando faixas e cartazes, distribuindo a nova edição do jornal Versão dos Jornalistas e um manifesto da Federação Nacional dos Jornalistas.

O presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Maria Rodrigues Nunes, destacou que a exigência da formação universitária é uma conquista histórica da categoria e da sociedade brasileira, responsável pela qualificação do Jornalismo no país, representando uma das garantias do direito à informação independente e plural, "condição indispensável pela verdadeira democracia".

Nunes criticou o STF que, após 70 anos de regulamentação da profissão e de 40 anos de cursos de Jornalismo no Brasil, em 2009 decidiu pela não necessidade do diploma para o exercício da profissão e pediu o apoio da sociedade na luta da categoria pela aprovação da PEC 33/09, que tramita no Congresso Nacional e que restabelece a obrigatoriedade do diploma.

Durante o ato, como forma de protesto, cartazes com fotos dos ministros que votaram pela derrubada do diploma foram colocados no chão. Representando a Assembleia Legislativa do RS, o deputado Adão Villaverde (PT) se fez presente ao ato e ainda concedeu entrevista à equipe da TVE, que cobria a manifestação dos jornalistas.

Antonio Oliveira, ex-presidente do Sindicato, foi um dos que fez uso da palavra ao megafone, tal como o aposentado Benigno Rocha e outros decanos da Imprensa. Estudantes de Santa Cruz do Sul, do curso de Jornalismo da Unisc, participaram do ato e relataram as agressões físicas sofridas durante protesto realizado na ida do ministro Gilmar Mendes àquela instituição.

PECs dos Jornalistas

No Congresso Nacional, tramitam duas Propostas de Emenda à Constituição, uma na Câmara dos Deputados e outra no Senado. A de número 33/2009 é de autoria do senador Antônio Carlos Valadares e relatoria do senador Inácio Arruda, e a PEC 386/2009, do deputado e jornalista diplomado Paulo Pimenta e relatoria do deputado Maurício Rands contribuem para o resgate da dignidade dos profissionais e contribuem para o Jornalismo de qualidade. A campanha da Fenaj, em todo o país, é pela imediata votação das PECs.

Com informações do Sindicato dos Jornalistas-RS

Jornalista critica “invasores de privacidade profissionais”

"A ausência da ética deixa um vácuo onde se propaga a onda da corrupção." (Antonio Gomes Lacerda)



Brian Cathcart, ex-jornalista da Reuters e do Independent e hoje professor de jornalismo na Universidade Kingston, argumenta que o jornalismo está sendo manchado pelos “invasores de privacidade profissionais”. Para ele, coexistem dois jornalismos: um que age em prol do interesse público e outro que serve ao interesse pela luxúria.

Cathcart dá como exemplo o caso do tabloide britânico News of the World,que divulgou um vídeo no qual o presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), Max Mosley, aparecia em uma orgia com cinco prostitutas, fazendo referências nazistas e com o papel de “comandante de um campo de concentração”. Segundo o professor, isso só se classifica como jornalismo por ter aparecido em um jornal.

Já sobre a cobertura difamatória do desaparecimento da menina Madeleine McCann, em 2007, em Portugal, ele argumenta que oDaily Express foi o grande culpado ao acusar os pais de terem ligação com a suposta morte da filha. “Ninguém foi punido e nada mudou. O editor chegou a ironizar a ideia de que poderia ter havido alguma punição”.

Em relação a grampos telefônicos, Cathcart menciona a tentativa (em vão) do grupo News International em abafar o caso ao pagar uma grande quantia de dinheiro a Gordon Taylor, presidente da Associação de Jogadores de Futebol Profissionais, cujo telefone teria sido grampeado pelo News of the World.

O professor comenta ainda a defesa “curiosa” de casos de invasão de privacidade feita pelo editor do Daily Mail, Paul Dacre, em 2008. Segundo Dacre, os jornais populares deveriam ter o direito de publicar escândalos para que sua tiragem aumentasse e, desta forma, eles conseguissem recursos para publicar jornalismo menos escandaloso. “Isto significa que a intrusão profissional à privacidade é um preço que a sociedade tem de pagar se quiser ficar informada por temas genuinamente de interesse público. Não está certo. Não devemos abandonar o jornalismo com base na ética”, diz Cathcart. “Devemos reforçar a diferença entre os dois jornalismos para beneficiar o público”.

Com informações de Roy Greenslade [The Guardian, 15/6/11].